No ponto de ônibus - 1

Uma história de Antinoísta

AVISO
A história que se segue é pura ficção, jamais aconteceu. Você acessou a Nifty, então já sabe que é uma história erótica, envolvendo sexo entre rapazes adolescentes. Se você é menor de idade (menos de 18 anos) ou se no lugar onde você se encontra a lei proíbe este tipo de história, saia daqui. Ajude a manter a Nifty funcionando, faça uma doação: DONATION.

Eu estava voltando do centro da cidade, de ônibus. O novo ano começara três dias atrás, as férias de verão estavam à minha frente, eu tinha dezoito anos de idade e acabara de passar no vestibular para uma instituição federal de ensino. Tudo pode lhe parecer um cenário perfeito, mas não era, posso lhe assegurar, caso para soltar fogos de artifício. Por duas razões, mas falarei aqui apenas da primeira.

O ano que acabara de terminar era o conflagrado ano de 1968. Pré-História, para quem já nasceu em meio à internet, aos telefones celulares e às redes sociais. Pré-Cambriano, para quem não faltou às aulas de biologia, deu-se ao trabalho de abrir um desses objetos de que ninguém lembra a utilidade – um livro – mas ainda assim nasceu depois da ridícula virada do Milênio e não tem a mínima ideia de que em 68 ouvia-se música botando para rodar uma bolacha preta chamada disco.

Pelo mundo todo estabeleceram-se ditaduras de extrema-direita, com o incentivo e o apoio dos defensores da democracia, claro. Eu conseguira entrar para a Faculdade Nacional de Direito. Na verdade, era de lá que eu estava voltando, no ônibus para Copacabana. Tinha feito minha matrícula e dali a dois meses começaria meus estudos das Leis, assim, com maiúscula. Leis que estavam sendo ignoradas, aqui e em vários outros países, inclusive nos que se diziam as verdadeiras democracias. Não teria sido melhor entrar para Letras e estudar ficção?

Bem, ninguém quer saber do que se passou há tanto tempo, então voltemos ao prosaico banco de ônibus onde eu estava sentado, do lado da janela. O ônibus já entrara na Barata Ribeiro e estava chegando o ponto onde eu deveria saltar. Mal acionara o sinal de parada, quando vi, na calçada, um garoto dar um pulo para trás e dizer um palavrão. A porta da frente se abriu – naquele tempo descia-se do ônibus pela porta da frente – e o garoto postou-se diante dela, discutindo com o motorista. Já de pé, quase na porta, fiquei assistindo à cena.

Cena um tanto surreal, diga-se de passagem. De um lado, o motorista, ar cansado, roupa meio suada e um mau humor perfeitamente compreensível em alguém obrigado a passar o dia inteiro guiando um trambolho enorme, barulhento e quentíssimo ali ao lado do motor, em pleno verão do Rio de Janeiro. Do outro lado, na calçada, um garoto de seus quatorze anos, usando apenas uma minúscula sunga preta e sandálias de borracha, algo assim como um jovem fauno deslocado para um ambiente urbano, que de bucólico não tinha nada.

O garoto tinha um corpo esbelto, que já começava a se espichar, típico da entrada na adolescência. Não era, claro, musculoso, mas suas formas eram definidas, sinal de que devia fazer muito exercício natural, nadando na praia ou jogando futebol. Seu bronzeado faria inveja às mulheres e seus infindáveis cremes disso e daquilo, garantia de se tornarem irresistivelmente morenas. Na cintura da sunga, um tantinho de pele clara aparecia, mostrando que seu bronzeado devia-se ao mais seguro dos artifícios, o sol da praia. Seus cabelos eram castanhos claros e revoltos, ainda mais revoltos por causa de seus movimentos irritados, os olhos da cor dos cabelos. As pernas eram sólidas e firmes, mas ainda desprovida de pelos. Os braços, que se agitavam enfatizando o que ele dizia, ainda eram braços esguios de menino.

De repente eu me toquei. Certamente eu já conhecia aquele garoto, ele devia morar ali nas redondezas. Eu devo ter cruzado algumas vezes com ele, mas provavelmente ele estava com roupas menos sumárias ou com o uniforme do colégio, por isso não o reconhecera de imediato. Tinha certeza de que nunca falara com ele, o que não era de estranhar, dada a diferença de idade, mas sua fisionomia me era, com certeza, familiar. Achei que era hora de me interpor entre aqueles contendores tão díspares, mesmo porque queria descer do ônibus e ir para casa.

Desci do ônibus, interrompendo momentaneamente o contato visual entre o motorista e o garoto e, já na calçada, olhei para o menino e disse:

– Deixa isso pra lá, não vale a pena perder tempo com isto – disse. Ele me olhou, a princípio irritado, depois um vago ar de reconhecimento cruzou seus olhos.

– Mas esse filho da puta jogou lama em mim, de propósito – retrucou ele, apontado para os pés. Realmente eles estavam molhados com a água suja acumulada na sarjeta.

– Deixa pra lá – repeti. – Ele vai passar o resto do dia torrando atrás do volante daquela merda de ônibus. Você pode ir à praia, ao cinema, fazer o que quiser.

Na verdade, não precisava continuar minha argumentação, porque o motorista já fechara a porta e arrancava com o ônibus. Ótimo. Afinal, ainda estava longe de ser um advogado, pronto para uma brilhante sustentação oral. Então, mudei o papo.

– Você mora por aqui, não é? Acho que já te vi antes. – E comecei a andar em direção ao meu prédio, sendo seguido pelo garoto, aparentemente já esquecido da briga.

– Eu também já te vi por aqui. Onde você mora?

– Na Rodolfo Dantas, naquele prédio que tem uma entrada de mármore preto – e disse o número.

– Porra! É o meu prédio. Como é que a gente não se conhece?

– Bem, não é tão estranho assim. Eu não conheço ninguém daquele prédio. Do nosso prédio. Aqui em Copacabana é mais fácil fazer amigos na praia do que num prédio. Na praia a gente fica um tempão, no prédio a gente só cruza os corredores.

– Eu conheço outro garoto de lá. Mas conheci ele no colégio, é verdade. O resto do pessoal do bairro que eu conheço, também conheci no colégio.

– Por isso não nos conhecemos. Mesmo que cursássemos o mesmo colégio, estaríamos em turmas diferente. Você provavelmente ainda está no ginásio. Eu terminei o colegial.

– Pode ser – admitiu ele, meio ressabiado, como todo garoto mais novo que precisa admitir ser mais novo, diante de um mais velho.

Chegamos à esquina da Rodolfo Dantas e cruzamos a Barata Ribeiro, quando o sinal fechou. Continuamos a conversa fiada, até chegarmos diante do prédio. Já eram mais de onze horas, provavelmente hora do almoço, mas ainda assim perguntei ao garoto:

– Daqui você segue para a praia?

– Ainda não. Tenho que almoçar. Minha mãe pediu pra eu ir até a venda comprar um tempero. Por sorte não tinha. Esse tempero é uma merda – disse ele, retirando de dentro da sunga umas duas notas de dinheiro enroladas. De novo reparei como era clara sua pele não exposta ao sol e como o contraste com a cor morena do resto do corpo era excitante.

– Eu também. Depois vou descansar um pouco. Se quiser, apareça lá em casa às duas horas. É o apartamento 604. Podemos fazer o que duas pessoas sensatas fazem num dia como hoje, ir à praia. E nos reconhecermos oficialmente como vizinhos – acrescentei, dando uma risada.

– Pode ser. Afinal, o Augusto, o garoto do prédio que eu conheço, viajou de férias.

– E por falar em Augusto, como é o seu nome?

– Eduardo – respondeu ele, um tantinho encabulado.

– Ótimo, Eduardo, te vejo às duas, apareça, te encontro aqui embaixo, é melhor. Meu nome é Antônio, mas se me chamar de Tonico leva porrada. – Foi a vez de ele dar uma risada.

Entrei em casa e fui direto para o quarto. Não ia almoçar de verdade, apenas comer um sanduíche. Tanto minha mãe quanto meu pai estavam no trabalho. Mesmo esquentar alguma comida deixada pronta na geladeira seria cansativo. E depois teria que lavar prato e talheres. Mais fácil cortar um pão e enfiar alguma coisa dentro. Mas antes tomar um banho, que eu estava suado, depois da ida ao centro da cidade. Antes de mais nada me livrei dos sapatos e das meias. Já fazia uma enorme diferença. Tirei a calça e guardei no armário. A camisa botei nas costas de uma cadeira, talvez desse para usar de novo.

Antes de ir para o banheiro, postei-me diante do espelho preso na porta do guarda-roupa e me admirei. Ainda estava com a cueca, no estilo sunga. Já não era um garotinho, então não precisava mais usar as cuecas compradas por minha mãe, as velhas samba-canção, de pano. As atuais eram de malha e agradáveis ao toque. Diante do espelho era como se eu estivesse com a sunga de praia, só que branca e quase transparente. Fiz pose, virando meio para um lado, depois para o outro. Estava longe de ser um atleta, mas ao menos era magro, barriga reta, apresentando uma tênue definição dos músculos abdominais. Os bíceps eram naturalmente desenvolvidos, nada lembrando filmes italianos de Hércules ou trogloditas semelhantes. As pernas também eram desenvolvidas – afinal eu gostava de nadar, ainda que só na praia – e já cobertas de pelos.

Quando, usando ambos os polegares, comecei a abaixar lentamente a cueca, vi que havia pouca diferença de tonalidade entra a pele que ficava sempre escondida e a pele que podia se expor ao sol. Resultado de ter perdido todo um ano estudando para o exame vestibular, só em raros fins de semana eu arrisquei ir à praia, nem uma vezinha nos últimos dois meses. Quando por fim tirei a cueca, adiantei um pouquinho os quadris, sem sentir, para ressaltar o reflexo do meu pau, mole, talvez com uns oito centímetros, caído sobre o saco, um tufo de pentelhos escuros em sua base. Vendo mais uma vez a pouca diferença da marca da sunga, lembrei-me do contraste total do bronzeado do menino do ponto do ônibus, e como de certa forma aquilo era excitante.

Bem, talvez tenha chegado a hora de falar da segunda razão pela qual eu não soltaria fogos de artifício naquele início de verão. Eu não achei o contraste de cor da pele excitante. Eu achei excitante ver aquele contraste no corpo do garoto, que agora eu podia chamar de Eduardo. Sim, eu achava garotos uma coisa excitante, fossem da minha idade ou perto disso. Não me entendam mal, desde que começou minha adolescência eu gastara litros de porra tocando punheta a olhar para as fotos de uma revista de mulher pelada – coisa difícil de se obter, naquela época – ou imaginando enredos tórridos com algumas colegas da escola. Mas também, muito bem escondido no meu quarto, homenageara com minha mão operosa um ou dois amigos de quem eu gostava.

Você acha estranho que isso me preocupasse? Cara, naquele tempo não existia internet e você não podia saber que milhões de garotos pelo mundo afora não apenas gostavam de outros garotos, como faziam entre si as coisas mais interessantes. Não existia DVD, nem mesmo videocassete, que duas décadas mais tarde levariam os vídeos pornôs às casas mais pudibundas. Em termos de pornografia, existiam apenas umas revistinhas ilustradas à mão, artesanais, com o curioso apelido de catecismos. Mas as poucas que eu já vira eram todas heterossexuais. E existiam as revistas com fotos de mulheres nuas, que também apareciam misteriosamente na mão de algum menino mais ousado, eram emprestadas aos amigos e provavelmente respingadas com uma variedade de sêmen capaz de garantir a genética saudável da espécie.

Certamente havia meninos aventurosos e mais esclarecidos pela vida, que deviam experimentar muito de sexo entre si. Mas não era o caso do meu mundinho pacato de baixa classe média, da minha escola toda certinha, do meu grupinho de amigos mais chegados. Dos doze aos dezoito anos, tinha feito algo de timidamente sexual apenas com um amigo e apenas poucas vezes. Também ensaiara estar com meninas, nunca indo além do beijo na boca e das carícias por cima das roupas. Mas agora eu tinha dezoito anos e entrara para a universidade. Como explicar ao resto do mundo o fato de não ter uma namorada e como explicar a mim mesmo o fato de não estar realmente entusiasmado com arrumar uma?

Fechei os olhos e tentei visualizar o Eduardo, andando a meu lado, quando voltamos do ponto do ônibus para nosso prédio. Quando ele ficava ao meu lado, arriscava olhar para baixo com o canto do olho e via a tal diferença de cor da pele, na lateral de sua sunga, que não devia ter mais do que dois dedos de largura. Naquele tempo, todos os garotos e os homens jovens usavam sungas minúsculas, não era ousadia, era simplesmente moda. Eu e meus amigos mandávamos fazer as nossas numa loja especializada em malhas para balé, quase no Posto 4. E a medida da lateral era de três dedos.

Quando o Eduardo se adiantava um pouco, eu podia olhar direto para sua bunda. Perfeita. Bunda de menino, estreita, esbelta, mas perfeitamente redonda onde tinha de ser. Acima da bunda, as duas covinhas que marcam o fim da musculatura das costas, simétricas, dois vértices de um triângulo cujo terceiro era o início do rego do cu. Era naquela ranhura, em que a sunga se distancia da pele, que mais dava para ver a diferença de cor. Era terrivelmente excitante ver que o bronzeado profundo, num espaço de talvez um centímetro, clareia, apresentando os vários tons do cobre dourado, até se dissolver num espaço de pele branca.

Abri os olhos e olhei para baixo. Só de invocar aquelas imagens em minha mente, por um ou dois minutos, o meu pau endurecera completamente, ostentando todos os seus orgulhosos dezesseis centímetros, a cabeça toda para fora do prepúcio. E minha mão, agindo por conta própria, já envolvia a base, pronta a fazer o trabalho para o qual era sempre convocada. Mas por um garoto? Soltei um logo suspiro. Não era hora de considerações filosóficas. Agarrei minha pica com firmeza e comecei o vai e vem. Fechei os olhos e imaginei o Eduardo de todos os ângulos possíveis, dentro daquela sunga preta e até sem ela. Minha mão se movia cada vez mais rápida, minha respiração se acelerava. Não demorou muito para que eu explodisse e jatos de porra batessem contra o espelho, escorrendo para baixo em veios densos e esbranquiçados.

Depois de recuperar o fôlego e a sanidade, fui até a cozinha, peguei um pano de chão molhado e limpei o espelho e o chão, onda caíra também algumas gotas. Por sorte o chão do meu quarto era de cerâmica. Joguei o pano no tanque e fui direto para o banheiro, onde tomei um delicioso banho frio, sem maiores incidentes. Vesti minha sunga – azul com uma faixa amarela – e fui comer meu sanduíche de lei, com o suco que por acaso houvesse na geladeira. Depois me joguei no sofá da sala, não sem antes preparar um pequeno detalhe no meu quarto, liguei o rádio numa estação musical e fiquei esperando a hora de ir à praia.

[Continua no próximo capítulo.]